2 - O Mensalão e o Anjo

Contarei sobre uma segunda pesquisa que faz de contas que um anjo fez.

O papai de Biinho estava ensinando a ele que Papai do Céu quer que todos nós sejamos honestos de verdade. Ele logo se saiu com esta:

-Papai, porque tantos deputados recebiam o Mensalão? Eles sempre foram ladrões?


Então para que ele entendesse bem isto papai contou uma história:

Era uma vez no Brasil cem crianças que nasceram mais ou menos na mesma data. Elas todas foram criadas e ensinadas para passarem a perna nos outros, que em roubar pequenas coisas não tinha problema. Muitas destas crianças nunca ouviram isto, mas viam as pequenas mentiras que seus pais contavam e as pequenas desonestidades.

Uma delas, quando cresceu, foi ser funcionário público, e trabalhava num presídio. Ele dizia que o Brasil era injusto com ele, pois achava que ganhava muito pouco. Lembrou que seu pai levava objetos da empresa que trabalhava por causa disto mesmo. Então os presos desejavam drogas e outras coisas e este brasileiro número um arranjava para eles e recebia um dinheirinho extra. Ele pensava: “Afinal de contas, todos fazem destas coisas, eu que ficaria no prejú?”.

Tinha o brasileiro número dois, ele foi ser médico. Então o hospital onde trabalhava pagava muito pouco pelas cirurgias. Como seu pai ensinou a ele tratou de dar um jeito. Resolveu cobrar dos doentes uma quantia a mais, porém tinha de ser escondido, pois era errado. Assim o doutor ficou com mais dinheiro.

Já o brasileiro número três desejou ser policial. Nossa, mas também como ganhava pouco. Ele logo pensou que o Brasil tinha a culpa de tudo isto, pois sempre assim aprendeu. Então ele parava os carros no trânsito e cobrava uma quantia para não multar os motoristas, fazendo tudo escondidinho, pois poderia perder o emprego por cometer este crime. Ele até comprou uma casa depois com este dinheiro.



O brasileiro número quatro se tornou político e até chegou a ser deputado. Ele ajudava a roubar o dinheiro do Brasil e colocava nos bancos fora do país. Ficou muito mais rico do que todos já citados. Ele nunca se preocupava muito e dizia a todo mundo que deputado não pode ser preso e processado como os outros brasileiros comuns.

Muito bem, dos cem brasileiros que nasceram quase na mesma data, ainda temos noventa e seis que aparentemente eram honestos.

Estes cresceram, estudaram e diziam ser muito honestos. Eles ouviram falar do funcionário público ladrão, do médico ladrão, do policial ladrão e do deputado ladrão e sempre ficavam horrorizados com tanta desonestidade.

Então Deus, que do Céu a tudo olhava, resolveu enviar um anjo (não aquele da garrafa, foi outro) para fazer uma pesquisa, não para Deus, que Ele tudo sabe, mas para que os outros homens aprendessem. O anjo deveria descobrir qual a porcentagem dos de fato honestos.

Então o anjo colocou na frente de cada um dos 96, em momentos diferentes, uma carteira que alguém perdera, com o nome do dono e endereço e com pouco dinheiro. Destes 96, 80 pegaram o dinheiro; alguns devolveram a carteira sem dizer quem eram, mas ficaram com o dinheiro. Somente 16 devolveram a carteira com tudo, inclusive o dinheiro.

Mas o anjo continuou a pesquisa. Ele então colocou um pacote de vinte mil dólares na frente de cada um dos 16 “honestos”, em um aeroporto, pois lembrara da história de um brasileiro que devolvera o dinheiro.

Puxa, dos 16, somente um devolveu o dinheiro, a tentação foi grande demais para os que se achavam honestos. O que devolveu era um bom cristão de fato, sendo temente a Deus, como dizem, era um católico praticante.

Então papai explicou a Biinho:

Muitos dos deputados foram honestos enquanto a tentação era pequena. Mas quando eles podiam receber milhões, aí a tentação foi muito grande e somente poucos conseguiram resistir.

Existem duas formas de não se cair em tão grandes armadilhas: primeiramente criando dificuldades para que estas armadilhas não existam, através das leis. Em segundo lugar educando a criança para ter um bom caráter, de verdade.

Na verdade, Biinho, poucos há que passem neste teste. Vamos orar a Deus que nossos amiguinhos sejam criados diferentemente e resistam, até a ponto de morrerem pela verdade e pela honestidade, se assim for necessário.


"Os que acreditam que com dinheiro tudo se pode fazer, estão indubitavelmente dispostos a fazer tudo por dinheiro."[i]
[i] Beauchène

Nenhum comentário: