7 - João Garimpeiro

Faz de conta que existia um anjo que tinha como missão, dada por Deus, de dar muitas riquezas a quem provasse ter muita força de vontade.

João era um garimpeiro que trabalhava em Serra Pelada, no Pará. Ele desejava muito arranjar uma pepita de ouro que pudesse dar riquezas a ele.

Um dia João desceu num buracão muuuuito fundo e foi cavar mais a terra; depois de colocar a terra num saco e colocar o saco nas costas, segurado por uma corda amarrada em volta de sua cabeça, João subiria centenas de metros em uma escada e levaria a terra para ser lavada e ver se tinha ouro.

Mas antes de subir, lá no fundão, apareceu um anjo celestial, muito cheio de luz e disse:


-Escolhi você para ganhar grandes riquezas na terra; mas dependerá sempre de uma coisa: você não poderá se apossar da pepita de ouro. O dia que fizer isto ficará pobre de novo.

João Garimpeiro não entendeu direito, pois não via pepita de ouro alguma. O anjo desapareceu e João pensou que tinha sido uma “visagem” por causa de seu cansaço.

Quando João foi lavar a terra, que surpresa! Uma grande pepita, do tamanho de uma mão fechada de criança!

- Estou rico, estou rico! - gritava João.

Mas aí ele se lembrou do anjo e chegou à conclusão que deveria ser verdade mesmo que viera de Deus. Seria melhor obedecer então. João escolheu um lugar bem bonito, ao pé de uma castanheira bem grande e enterrou a pepita de ouro.

Mas, passadas algumas horas, já pensava em desenterrar. Com grande luta deixou a pepita lá debaixo da terra. Quando ia andando triste achou um pacote de dinheiro no chão. Depois de algum tempo viu que ninguém reclamara e concluiu que era presente de Deus, através do anjo.

João comprou toda aquela fazenda, onde estava a castanheira e cada dia ficava mais rico.

Por mais de duzentas vezes, em 10 anos, João foi até aquela castanheira e começou a cavar para reaver a pepita e ficava com medo de perder tudo e deixava lá.

Um dia, dez anos depois, João estava pensando, lá nas Arábias, que era dono de muitos poços de petróleo, de uma cidade inteirinha que construíra, de muitas fazendas e até de uma plataforma espacial e muitos satélites em órbita ao redor do mundo. João então se tornara o homem mais rico do mundo. Mas ele pensava na pepita de ouro e achou que, depois de tanto tempo, na verdade aquele anjo nem existira, deveria ser tudo bobagem de sua mente e corpo cansados naquele dia quando ele era apenas um garimpeiro que não achava nada.

Encheu-se de coragem e entrou em seu avião a jato e pediu para aterrissarem na primeira fazenda, a da castanheira.

João não agüentou de tanta tentação, foi correndo, pegou um enxadão, cavou e descobriu a pepita. Tomou-a nas mãos e disse:

-Ah! Agora, sim, sou o homem mais feliz do mundo.

Naquele instante apareceu o anjo e disse:

-Você é o homem mais pobre do mundo e com certeza será um dos menos felizes, porque além de perder toda a riqueza não sobrou nem dignidade em você, pois não conseguiu ter domínio próprio. E Deus me autorizou a fazer rico alguém que tivesse domínio. Por 201 vezes você tentou retirar a pepita e nesta última vez o fez.

Naquele instante João recebeu a notícia que tivera um prejuízo muito grande em uma de suas empresas, de tal forma que suas riquezas estavam sendo confiscadas; começou a receber notícia que tinha perdido isto, aquilo, aquilo outro, até perder, por fim, a fazenda onde morava.

Foi colocado para fora com a pepita na mão. Chegando à cidade, foi até o comprador de ouro e ouviu a condenação final:

-Seu João Garimpeiro, esta pepita não é de ouro, é falsa!

Aí João Garimpeiro pegou o saco de colocar terra e foi garimpar, pobrezinho de tudo.


Ele havia aprendido a lição:

“Mesmo que um indivíduo domine o mundo, ele não terá valor algum, se não for capaz de dominar a si mesmo”.[1]
[1] Idem

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