13 - Papai, Pega Um Corrupto Pra Mim?

Certo dia um menino ouviu seu pai contar sobre um quadro de programa de humor, de alguns anos atrás. O artista era Jô Soares. Ele dizia que tinha um “corrupto” dentro de uma gaiola. O menino era carinhosamente chamado de Leinho e disse para o pai:

--Papai, pega um corrupto pra mim?

O pai de Leinho explicou que corrupto eram os homens maus que existiam na política, dentre os governantes e os que faziam leis. Leinho disse ao papai que nunca queria ser político.

--Ah, não, não, Leinho. Existem políticos honestos, ou pelo menos esperamos que sim.


O tempo passou e Leinho cresceu mais. Agora estava bem maior. Havia estourado o caso do mensalão e do mensalinho, depois das sanguessugas, da venda do dossiê e assim por diante.

--Papai, o senhor lembra que eu disse que nunca seria político?

--Me lembro, Leinho, mas existem pessoas honestas. Todo mundo com certeza dá uma escorregada aqui e ali. Mas nem todos têm a intenção de viver cometendo crimes. Veja bem, Leinho, vou contar para você sobre os seis graus da criminalidade. Como já está rapazinho, creio que poderá entender:

Primeiro falemos do grau zero, que chamo de estado de latência. O bebê é egoísta e briga pelos brinquedos; mas ele, assim como alguém que é doente mental, não sabem o que fazem e apenas dão lugar a seus impulsos naturais.

-Ah, sei – disse Leinho – por isto tenho de aturar o Biinho.

-Isto mesmo; ele ainda é pequenino. Mas, continuemos:

Depois vem o primeiro grau, em minoria; geralmente é o homem idealista, humanista que pensa no bem do próximo; ou o religioso, ou ainda que freqüenta algum clube de bem estar social e assim por diante. Estas pessoas foram educadas moralmente e não apenas formalmente, quer dizer, nas escolas. Elas erram, mas desejam não errar, o tempo todo. Seus erros são mais de impulso, em certos momentos, mas com certeza estarão buscando um jeito para não errar mais naquele ponto, construindo uma proteção e assim por diante.

E sabe como estas pessoas se ajudam mais e mais? Elas vão desenvolvendo o domínio próprio, a força de vontade e vão treinando para serem cada vez melhores pessoas.

Mas tem as de segundo grau. São a maioria no mundo. São aquelas que vivem como as de primeiro grau, imitam em tudo, demonstram ser honestas, mas são apenas na aparência ou porque as circunstâncias não ajudam. Elas estão sempre erradas na intenção, pelo menos. Mas ninguém sabe disto, até o dia em que: BUM! Tudo se revela. Mas, infelizmente muitas nunca são descobertas.

Estas pessoas não são ainda os criminosos que chamamos de bandidos. Geralmente praticam pequenos crimes o tempo todo, como dar gorjetas quando não podem, comprar favores, avançar os sinais quando o guarda não está perto, mentir para vender algum objeto, colar na hora da prova e assim por diante. Os seus pais geralmente ensinaram isto a eles, não com as palavras, mas com as ações. Eles viam seus pais fazendo isto o tempo todo. É diferente dos do primeiro grau porque têm a intenção errada mesmo. Apenas se escondem. São lobinhos vestidinhos de ovelhas.

--Tá, tá, impacientou-se Leinho...

--Bem, os do terceiro grau são em menor número, mas são perigosos para a nação e para todos; as circunstâncias sempre estão a seu favor e são grandiosos e ocultos nos caminhos da corrupção. É o caso dos políticos da laia dos que receberam o mensalão; são empresários como PC Farias e Marcos Valério.

Os do quarto grau são bandidos profissionais, mas que se escondem socialmente, através do convívio falsamente saudável e podem estar trabalhando em qualquer lugar, desejam aparentar honestos, mas não conseguem deixar de praticar grandes crimes e a qualquer momento poderão ser desmascarados. Muitos são maus policiais, terroristas, assaltantes, estupradores, seqüestradores e participantes de verdadeiras quadrilhas de fraudadores, estelionatários e outros. No entanto se mantêm, enquanto podem, com a máscara da honestidade, possuem negócios que servem como lavadores do dinheiro sujo e assim por diante.

O restante, do quinto grau, são aqueles traficantes e tantos outros que não se escondem, a não ser geograficamente. Se moram em uma favela, por exemplo, lá é respeitado, todos sabem quem é. Além de estarem escondidos geograficamente, da polícia, estão protegidos pela cortina de medo, ninguém pode denunciá-los senão perderá a vida. Estes são homens e mulheres, mas também as crianças que já se assumem bandidas e portam armas livremente dentro dos seus domínios; são desde os pequenos até os grandes chefes. Estes bandidos do quarto e quinto grau, de certa forma, são frutos da realidade existente, que faz que a maioria dos brasileiros seja composta de criminosos de segundo e terceiro graus. Eles apenas foram mais longe.

--Sabe de uma coisa pai? – disse Leinho – eu serei um político um dia, mas serei do primeiro grau, já que não posso ser menos que isto!

--Sim, Leinho, mas se realmente você for do primeiro grau, estará sempre se esforçando para, a cada dia, ser melhor ainda. Vale a pena. Que Deus abençoe você, meu filho.

“Quem não evita as faltas pequenas, pouco a pouco cai nas grandes.”[i]
[i] Autor desconhecido

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