Era uma vez no sertão nordestino uma fazendinha que fora abandonada pelos humanos, nas transumâncias da vida. Mas sobrou lá uma vaquinha e um bode.
A vaquinha perguntou ao bode, que era mais enxerido – e tinha aprendido a ouvir os humanos -, porque os homens foram embora. “Ora”, respondeu o bode, “eles diziam sempre que não havia comida para o bode e a vaca e assim não teriam mais bodinhos nem vaquinhas, nem leitinho e foram embora”.
Mas a vaca, muito experiente, disse:
-Eita, se eu soubesse falar com os humanos, iria dizer que numa outra fazenda davam os pés de mandacaru pra gente comer. Como é que eles não aproveitam tanto mandacaru?
-Botelho – então disse a vaca, chamando o nome do bode – vamos comer aquele mandacaru?
-Eita, Vacalha – responde o bode – tá cheio de espinhos. Eu vou é subir aquelas montanhas, gosto do desafio de novas fronteiras e talvez não morra de fome até lá.
Ao tentar subir umas pedreiras, o bode empurrou uma baita de uma pedra, que caiu em cima de outra. A caatinga estava tão seca que, da faísca que saiu das pedras pegou fogo no matinho e lá se foi queimando os pés de mandacaru.
O bode deu umas voltas e desistiu. Voltou e disse para Vacalha:
-Voltei para morrermos juntos...
Mas de repente olha para a vaca, está alegre, abanando o rabo e até sentara, pois a barriga estava para estourar de tanto estar cheia de comida.
Logo em seguida contou ao bode que o fogo queimara os espinhos dos pés de mandacaru; como eram muito molhados por natureza, não se queimaram por dentro; e então ela comeu até ficar tonta...
O bode deu um berro e começou a comer mandacaru.
“ O justo se informa da causa dos pobres, mas o ímpio nem sequer toma conhecimento.”[i]
[i] Provérbios 29:7
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